sexta-feira, 27 de maio de 2011

autorretrato.

(Essa foi uma redação que eu fiz na escola e a proposta era fazer um autorretrato).


Porta- retratos

Às vezes, sentimos medo de recordar o que éramos. De fazer nossa mente abrir a porta que nos leva a vagar por um extenso corredor repleto de lembranças penduradas.
É uma porta velha, aos pedaços, mas que esconde um longo caminho atrás dela. Nas paredes desbotadas, diversos porta-retratos frágeis e delicados; guardando consigo a imagem de uma pequena menina em seu vestido de renda e laços. Imagens de seus brinquedos e as mais belas bonecas que tinha. Imagens, também, de sua família, dos tombos e vários machucados que fizera aprendendo a andar de bicicleta e patins. As travessuras e seus respectivos castigos. “Que criança levada”, pensei comigo, mas apesar de tudo isso, seu carinho e fragilidade eram evidentes.
Continuei minha caminhada e alguma coisa estava diferente. O corredor aparentava estar estreito e tão difícil de passar, e aquelas porta-retratos foram misteriosamente se transformando. Antes tão brilhantes e delicados agora, estavam de cor cinza e um forte vento vinha deles. Um cheiro de chuva subia pelas narinas e a água daquela tinha gosto de lágrimas.
Não havia brinquedos. Não havia laços coloridos. Eram sempre as mesmas imagens. E onde está a pequena menina? Pois bem, ela cresceu e a chuva que molha o meu rosto, era ela quem fazia. Espantei-me com as imagens. Quis tirá-la de lá. Daquelas lembranças. Tirá-la do meio daqueles remédios e frascos e pessoas vestidas de branco andando freneticamente dentro de um grande estabelecimento cheia de pessoas, também vestidas de branco, mas com suas almas doentes. Era por quem estava lá dentro que ela chorava até que, de repente, um porta-retrato se fez água. Logo depois se precipitou no chão e cravou nele como uma pedra.
O corredor tornou-se transitável e mais uma vez me deparo com mais porta-retratos. Algo me surpreende, pois só havia fotos dela: daquela menina que agora, era uma mulher. Não havia seus pais, talvez tenham se perdido com o tempo, mas devido a perca, ela não parecia mais tão abalada assim. Os porta-retratos agora eram feitos de ferro, brilho e letras. Resistência, sonho e palavras espalhadas pela moldura.
Ela novamente cresceu e se desenvolveu. Ela era formada de palavras. Seus olhos castanhos brilhavam como o seu sorriso esperançoso de a cada dia encontrar um sentido para tudo o que desejara.
Andei mais alguns metros e sai daquela corredor satisfeita, pois eu sabia que ela estaria bem onde estivesse. E última coisa antes de fechar a porta totalmente, gostaria de dizer que ela conseguiu achar um sentido. Ela escreveu seu nome com o tempo. Nunca lhe disseram o seu significado e também nunca o descobrira. Mas vejo que levar tempo quer dizer descobrir. Ela própria descobriu o seu nome e seu merecido significado.

domingo, 22 de maio de 2011

um momento.

A vida é mais tempo alegre do que triste. Melhor é ser.

o homem de fogo.

Às vezes até eu me surpreendo com o imenso intervalo de tempo que fico sem postar nada por aqui; mas saibam que minha memória esta cheia de textos e textos, gritando e quase saltando para as teclas. É provável que todos saibam que durante esses meus dias “off-line”, como sempre, pude pensar e refletir sobre muitas coisas. E uma delas que me chamou mais a atenção é como o ser humano consegue ser infeliz com tantas coisas boas que tem. Como conseguem ter o que é seu por direito e mesmo assim, ficar de olho na “grama do vizinho”. Muitas vezes não é nem inveja (se é que posso chamar assim) de bens materiais, mas ultimamente esse sentimento tem se aprofundado cada vez mais. Passamos de substantivos concretos, para abstratos em um apenas uma vírgula.
Aprendi a comparar as pessoas com uma fogueira quase apagada. No que me refiro a “quase”, quer dizer que há possibilidade de o fogo reaver, reduzindo assim, as chances que esse fogo tinha de se apagar totalmente. As pessoas são assim: fogueiras quase inativas. As lenhas são seus bens, a brasa é o um sentimento de inveja e o vento um fator externo. Dependendo da força e da maneira com que ele sopre essa brasa, o que antes não era passa a ser uma grande e ardente fogueira.
Nós protegemos o que temos com garras e dentes. Vivemos nossas vidas tranquilamente, com ou sem ter um pingo de inveja. Mas se vem um amigo fazendo um comentário sobre algo que ele conseguiu, a vida amorosa, uma promoção no emprego ou qualquer outra coisa que sirva como um vento, já é mais do que o suficiente para atiçar a brasa e acender novamente o fogo.
É inevitável não ter uma brasa de inveja dentro de nós querendo nos incendiar, mas nem sempre uma brasa leva com ela apenas uma fogueira. Às vezes, até uma floresta. Devemos tomar cuidado com o que pensamos e com o que desejamos. E mais cuidado ainda com nós mesmos. Muitas vezes nós podemos nos queimar com tanto fogo de ódio, rancor, inveja e tantos outros sentimentos reprimidos ainda acesos dentro de nós.